terça-feira, 29 de novembro de 2011

O Sonho de passar Alegria


Levar a alegria para pessoas que estão em camas de hospitais com luzes, mas muitas vezes, parecendo escuras, é difícil. A incerteza toma conta daqueles corredores gigantescos cheio de salas e leitos frios. Cenas indescritíveis; pessoas que não conseguem nem falar devido a problemas respiratórios e dopadas por causas dos medicamentos, conseguem dar sorrisos tímidos e fracos quando chega alguma esperança. Esperança, palavra que não é real, porém inesquecível tanto para quem faz como para quem recebe.
Jovens perdem os seus tempos todas as segundas-feiras para tirar um leve brilho dos olhos dos pacientes, que muitas vezes estão esquecidos até mesmo pelos parentes. Este é o caso do grupo “Eis-me Aqui”, formado por docentes, alunos e voluntários da FAMERP – Faculdade de Medicina de Rio Preto.
Há 11 anos, foi criada a instituição filantrópica e sem caráter religioso, denominada Associação Comunitária “Reny Baptista Rodrigues” - Programa Eis-me Aqui - que atua dentro do Hospital de Base de São José do Rio Preto-SP, tentando levar alegria para os pacientes, que esperam um dia sair de lá, rever os seus familiares ou irem para a “terra do nunca” – onde nunca mais serão visto em vida. “Existia um sonho de pessoas que acreditavam que podiam fazer algo para os necessitados, com as coisas mais simples que se pode oferecer: um sorriso, uma cantoria, um ombro amigo ou uma simples conversa para não se sentirem sozinhos. Com isso, foi fundado o grupo”, afirma a estudante e ex-coordenadora Júlia Laurindo Giacomini.
O bando conta com aproximadamente 50 participantes, onde realizam trabalhos com crianças, adultos e idosos. “As crianças são estimuladas a brincar, ouvir histórias, assistirem a teatrinhos, tudo para a tranquilidade e entretenimento. Os adultos e idosos são escutados em conversas e também entram em brincadeiras, apreciam poemas e músicas”, diz Júlia.
Eles se reúnem na segunda-feira, ás 18h00, na porta do hospital para divisão de dois grupos. Um grupo vai para o 2º andar, onde fica a geriatria e o outro vai para o 4º andar que é a pediatria.
A gratificação e a alegria é de ambas às partes; quando entram nas salas e cantam com toda empolgação, alguns pacientes se emocionam, os acompanhantes também, até acabam cantando junto, vibrando junto e achando o trabalho lindo. “É muito bonito ver eles tentando alegras os pacientes, que estão na maioria das vezes tristes, pois ficam 15 dias sem receber uma visita. Isso chega até emocionar nós que não estamos internados, mas alegrias que eles tentam passar para os doentes aqui no hospital deixam todos nós felizes", diz a secretária e acompanhante Eula Paula Shimizo, 22 anos.
Quase sem respiração e com poucas falas, alguns pacientes mostram sua felicidade. "Com eles vindo aqui tenho esperança de sair daqui logo, fico triste nessa cama, mas trazem alegria para nós, e isso me deixa muito feliz". afirma a paciente Vanda Batista, 56 anos.
Para uma das voluntariadas, além da felicidade que os doentes ficam, é muito gratificante participar desse ato. "Aqui além de alegrar as pessoas, nós nos divertimos levando felicidade, é inexplicavel o sentimento", explica Rafaela Garcia Fleming, 22 anos, estudante de enfermagem.
O primeiro projeto começou com Michael Christensen, em 1986, um palhaço americano, diretor do Big Apple Circus de Nova Iorque, apresentava-se numa comemoração num hospital daquela cidade, quando pediu para visitar às crianças internadas que não puderam participar do evento. Improvisando, substituiu as imagens da internação por outras alegres e engraçadas. Essa foi a semente da Clown Care Unit. Grupo de artistas especialmente treinados para levar alegria a crianças internadas em hospitais de Nova Iorque.
Em 1988, Wellington Nogueira passou a integrar a trupe americana. Voltando ao Brasil, em 1991, resolveu tentar aqui um projeto parecido, enquanto ex-colegas faziam o mesmo na França (Le Rire Medecin) e Alemanha (Die Klown Doktoren). Os preparativos deram um trabalho danado, mas valeu: em setembro daquele ano, numa luminosa iniciativa do Hospital e Maternidade Nossa Senhora de Lourdes, em São Paulo (hoje Hospital da Criança), surgiu o projeto "Doutores da Alegria", que existe até hoje. Os Doutores da alegria tem como missão levar alegria a crianças, pais e pessoas hospitalizadas, da mesma forma que o Eis-me Aqui, de Rio Preto.

Diferente do grupo paulistano, o Eis-me Aqui não precisa ter o registro de ator (DRT), e sim ter vontade de ajudar o próximo. "Não entramos aqui, como médico ou enfermeiro, entramos aqui para passar alegria. Você se sente mais humano em ver a felicidade no rosto deles. Para participar é muito simples, a pessoa tem que ir à FAMERP e procurar um dos coordenadores nos centros acadêmicos de Enfermagem e Medicina da faculdade. Os interessados serão capacitados para conviver dentro do hospital, serão passadas regras de segurança para eles e para os pacientes. “Iremos mostrar qual é o propósito do Eis-me aqui, depois disso, a pessoa já estará apta para freqüentar”, afirma Danilo Botelho, 24, estudante e um dos coordenadores. “Quando entro aqui, sinto que tudo muda. É muito gratificante. Esses dias um senhor veio me agradecer pela alegria passada para sua mãe, cheguei chorar”, finaliza Danilo.
Obs: trabalho produzido para a Faculdade Unilago.

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