Tudo é diferente. Os
pássaros cantam, os bois andam pelo pasto. Ela, sempre ela, fica
sentada na sua varanda olhando o horizonte clarear e escurecer.
Imagina você, em pleno século 21, viver desconectado de tecnologias
e computador. Não tem perfil no Facebook e nunca teve aparelho
celular na vida! Parece irreal, não é? Pois toda regra tem exceção.
-Oi Franklin, como
vai meu amigo?
- Estou bem minha
amiga e você?
- Vou vivendo. Ainda
no jornalismo, mas só que na roça.
- Na roça? -
questiono.
- É, procurei ficar
na fazendo do meu pai, sem telefone e sem celular.
- O quê? - fico
pasmo.
Ontem encontrei com uma
amiga que formou comigo em jornalismo na Unilago e atualmente mora
na Fazendo do seu pai, em Aparecida do Taboado, Mato Grosso do Sul.
Chama Claúdia Araújo. Tem 38 anos, é jornalista e trabalha com o
computador da lan-house da cidade. Volta e meia entrega um texto
sobre Natureza e Astrologia – material para ela, no meio daquele
verde hippye, é o que não falta. Loira, de 1,74 metro, só tem
conta de e-mail.
De vez em quando ela
vem aparecer por São Paulo. Vem visitar a família e outros amigos.
Como de costume, ela vai embora assustada e amaldiçoando a nossa
terra: não entende a correria, a gritaria, o agito e a velocidade de
tudo.
- Eu não sei como
vocês conseguem viver assim! Fico muito estressada. Eu prefiro ficar
no meio do mato com uma pauta ali, outra aqui.
Ela tem pressa em
regressar à sua horta e capinar, que é o que ela mais gosta. E as
galinhas as esperam felizes ou acabam ficando tristes e a produção
dos ovos cai.
Ah, esqueci de contar.
Ela não tem luz elétrica em casa. Não por opção, mas porque não
instalaram mesmo. Logo, ela acompanha a luz do sol e faz as coisas à
mercê dele. Quando o dia começa, ela começa também. Geralmente,
levanta às 5h30, todos os dias. Toma o seu café reforçado na
varanda da casa simples onde mora, observa os bichos e vai para o
campo.
Ela me contou que em
todo amanhecer os tucanos vêm fuçar os ovos dos outros pássaros e
todos fazem um barulho danado. Que tem uns três tipos de macacos
diferentes que estão sempre por lá – Também conta que fica
espertas devido ao número de cobras e ainda não chega perto de
alguns cavalos selvagens, que já começara a ficar mais íntimos.
Cláudia ainda fala que
os gaviões comem as cobras das quais têm medo. “Eles saem voando
com elas no bico, e elas lutam para sobreviver.”
A Claudinha, como era
chamada, observa por vários dias os movimentos do urubus. Inclusive,
ela que me contou que eles chegam muito alto, pra cima das nuvens
para fazer a digestão. “Esses dias fiquei olhando os urubus para
ver se eles achavam a Belinha, minha cachorra de estimação que
despareceu e, provavelmente, foi morta por uma cobra no meio do
mato.”
Disse pra mim também
que o galinheiro do vizinho foi todo destruído, e que provavelmente
foi obra da onça. “Os lobos do mato, eu só vi uma vez, mas foi
legal.”
Agora, não pude deixar
de ficar lisonjeado quando ela me contou sobre as cachoeiras, do café
que ela toma na casa de uma comadre toda tarde a partir das 16 horas.
“Faço comida no forno à lenha”, diz sorrindo.
Logo vem o pensamento:
“Forno a lenha?”. Hoje, eu só consigo viver de comidas enlatadas
ou congeladas, e não pode faltar o microondas.
Em um determinado
momento do papo, achei tudo aquilo muito surreal. De repente, acordo
querendo continuar a conversa com Cláudia, essa amiga fictícia que
me fez acreditar que posso ser jornalista, longe dessa correria do
dia a dia. Bom, agora, deixa eu aprender mexer no Skype. Afinal,
tenho que viver minha própria realidade.
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