Estou colocando esse texto do meu amigo Luciano Alvarenga, pois acho que ele diz tudo.
Ninguém mais duvida de que a infância acabou, para se ter certeza basta saber que a partir dos dois meses de idade as crianças são terceirizadas para as creches, a partir dos dois anos ingressam num programa educacional tecnicista de identificação de cores, formatos e tamanhos. Aos quatro, já escrevem o próprio nome. Aos seis começam a não suportar mais escola. Escolas dão formação técnica, não amor.
Por outro lado, as crianças respondem por quase metade dos gastos econômicos de uma família. Elas são mais determinantes na indicação das compras do que os idosos e os jovens. Em supermercados a influência das crianças no que será comprado, segundo pesquisas da InterScience, a pedido da Bauduco, superou os 70%. Para a publicidade não existe infância, mas consumidor mirim.
Se as crianças determinam parcelas cada vez maiores de como será gasto o orçamento familiar, não é estranho que o mercado se dirija cada vez mais a elas quando fala com o consumidor. Nesse sentido, também não é estranho que a publicidade voltada para crianças aumente cada vez mais e seja cada vez mais apelativa. Quando a Credicard lançou o cartão de crédito ONE, para crianças, 20 mil pessoas por dia ligavam na empresa para saber a respeito, a maioria de las crianças.
Acompanhando o mercado de consumo infantil seguem outros setores da economia. Linhas de cosméticos voltados para crianças, especialmente meninas, na verdade uma cópia daquilo que já é vendido às mulheres adultas; e salões de beleza exclusivos para crianças, na maioria para meninas; concursos de miss para crianças; roupas de banhos, como biquínis, com enchimento no bojo, simulando seios inexistentes, tudo evidencia que a infância não é mais tratada como tal. Das escolas ao mercado de consumo, passando pelo comportamento, o que temos é a infância esvaziada do lúdico e dos espaços do ser criança e dominada pela publicidade e pelo mercado.
Afora o que já está dito, estamos numa sociedade cercada pela propaganda sexualizada, sensual e às vezes erótica. Reproduzindo modelos de beleza cada vez mais juvenis, com ares não raras vezes infantis, o padrão de beleza e visibilidade ao alcance de meninas e meninos são eles mesmos, ou pelo menos, o mais perto deles.
Enfeixa toda esta ordem de coisas uma sociedade que perdeu a noção de espaço público e transformou a vida numa tagarelice a respeito da vida privada. Relacionamento, amor e sexo são as palavras mais digitadas, ouvidas e faladas. Desde programas de fim de tarde, Malhação, até novelas, qualquer uma de horário nobre, e filmes mundialmente assistidos, Lua Nova é um, o tema é sempre aquele monótono tripé.
Com a infância à venda, e os corpos e mentes das crianças transformadas na nova fronteira a ser conquistada pela sociedade do consumo, não estranha que a pedofilia apareça com destaque entre os fenômenos da atualidade.
Aqui se pondere que nem todo adulto que se aproxima da criança é pedófilo. Muitos adultos querem não a criança, mas o corpo adulto que esconde a criança. Meninas de 10 anos ou mais com perfis na internet que mais sugerem uma mulher não é um fato raro. Por outro lado, a pedofilia é a expressão da fragilidade das crianças expostas em situações onde ela não deveria estar desprotegida. Criança desprotegida não é apenas reflexo da ausência do adulto familiar responsável, é a ausência da infância onde esta criança possa se desenvolver protegida da sociedade do consumo (sexual?) e da publicidade.
A sociedade é pedófila, a publicidade é pedófila, o mercado de consumo é pedófilo. Qual a diferença, do ponto de vista da criança, entre ser bulinada por um adulto ou ser bulinada pela propaganda nos desenhos animados? A partir da perspectiva da criança, ainda que ela disso nada saiba, não há diferenças, em longo prazo, entre ser abusada sexualmente, começar a se preparar para o mercado de trabalho aos 2 anos de idade, assistir a propagandas que roubam sua infância, ou ser levada a um salão de beleza onde ela vai se maquiar. Em Italiano a palavra maquiar é melhor, trucco, quer dizer, truque, artimanha. Quando a mulher se maquia, faz um truque, sabemos a suas possíveis intenções; mas quais as intenções de uma criança quando faz o mesmo trucco? Aqui entram os pedó filos.
Não sejamos hipócritas, e a imprensa é em grande medida. O mesmo programa Fantástico, que denuncia a pedofilia, apresentou duas imensas matérias sobre salão de beleza para crianças e os concursos de miss infantil. As mesmas emissoras que denunciam a pedofilia vendem espaço para publicidade voltada para crianças.
Pedofilia é um dos efeitos colaterais numa sociedade que vendeu a infância para o mercado.
Por outro lado, as crianças respondem por quase metade dos gastos econômicos de uma família. Elas são mais determinantes na indicação das compras do que os idosos e os jovens. Em supermercados a influência das crianças no que será comprado, segundo pesquisas da InterScience, a pedido da Bauduco, superou os 70%. Para a publicidade não existe infância, mas consumidor mirim.
Se as crianças determinam parcelas cada vez maiores de como será gasto o orçamento familiar, não é estranho que o mercado se dirija cada vez mais a elas quando fala com o consumidor. Nesse sentido, também não é estranho que a publicidade voltada para crianças aumente cada vez mais e seja cada vez mais apelativa. Quando a Credicard lançou o cartão de crédito ONE, para crianças, 20 mil pessoas por dia ligavam na empresa para saber a respeito, a maioria de las crianças.
Acompanhando o mercado de consumo infantil seguem outros setores da economia. Linhas de cosméticos voltados para crianças, especialmente meninas, na verdade uma cópia daquilo que já é vendido às mulheres adultas; e salões de beleza exclusivos para crianças, na maioria para meninas; concursos de miss para crianças; roupas de banhos, como biquínis, com enchimento no bojo, simulando seios inexistentes, tudo evidencia que a infância não é mais tratada como tal. Das escolas ao mercado de consumo, passando pelo comportamento, o que temos é a infância esvaziada do lúdico e dos espaços do ser criança e dominada pela publicidade e pelo mercado.
Afora o que já está dito, estamos numa sociedade cercada pela propaganda sexualizada, sensual e às vezes erótica. Reproduzindo modelos de beleza cada vez mais juvenis, com ares não raras vezes infantis, o padrão de beleza e visibilidade ao alcance de meninas e meninos são eles mesmos, ou pelo menos, o mais perto deles.
Enfeixa toda esta ordem de coisas uma sociedade que perdeu a noção de espaço público e transformou a vida numa tagarelice a respeito da vida privada. Relacionamento, amor e sexo são as palavras mais digitadas, ouvidas e faladas. Desde programas de fim de tarde, Malhação, até novelas, qualquer uma de horário nobre, e filmes mundialmente assistidos, Lua Nova é um, o tema é sempre aquele monótono tripé.
Com a infância à venda, e os corpos e mentes das crianças transformadas na nova fronteira a ser conquistada pela sociedade do consumo, não estranha que a pedofilia apareça com destaque entre os fenômenos da atualidade.
Aqui se pondere que nem todo adulto que se aproxima da criança é pedófilo. Muitos adultos querem não a criança, mas o corpo adulto que esconde a criança. Meninas de 10 anos ou mais com perfis na internet que mais sugerem uma mulher não é um fato raro. Por outro lado, a pedofilia é a expressão da fragilidade das crianças expostas em situações onde ela não deveria estar desprotegida. Criança desprotegida não é apenas reflexo da ausência do adulto familiar responsável, é a ausência da infância onde esta criança possa se desenvolver protegida da sociedade do consumo (sexual?) e da publicidade.
A sociedade é pedófila, a publicidade é pedófila, o mercado de consumo é pedófilo. Qual a diferença, do ponto de vista da criança, entre ser bulinada por um adulto ou ser bulinada pela propaganda nos desenhos animados? A partir da perspectiva da criança, ainda que ela disso nada saiba, não há diferenças, em longo prazo, entre ser abusada sexualmente, começar a se preparar para o mercado de trabalho aos 2 anos de idade, assistir a propagandas que roubam sua infância, ou ser levada a um salão de beleza onde ela vai se maquiar. Em Italiano a palavra maquiar é melhor, trucco, quer dizer, truque, artimanha. Quando a mulher se maquia, faz um truque, sabemos a suas possíveis intenções; mas quais as intenções de uma criança quando faz o mesmo trucco? Aqui entram os pedó filos.
Não sejamos hipócritas, e a imprensa é em grande medida. O mesmo programa Fantástico, que denuncia a pedofilia, apresentou duas imensas matérias sobre salão de beleza para crianças e os concursos de miss infantil. As mesmas emissoras que denunciam a pedofilia vendem espaço para publicidade voltada para crianças.
Pedofilia é um dos efeitos colaterais numa sociedade que vendeu a infância para o mercado.
Luciano Alvarenga
3 comentários:
"Cobra fica amiga de rato que seria sua refeição". Aos olhos da cobra não é uma refeição e sim uma companhia.
Aos olhos do adulto a criança pode ser consumidor, cliente, filho, sensual ou só criança.
Uma visão diferente a cada olho, assim como o texto, uma visão diferente da minha.
Belo texto!!!
Penso que assim como o conceito de criança foi inventado, e o de adolescente também, haverá o momento da reinvenção, pois vivemos numa sociedade que erotiza a criança de forma que o próprios pais não percebem, e acabam contribuindo com este processo.
Se somos todos pedófilos? Compreendo sua idéia, mas tenho ressalvas. Todavia, seu texto é um bom material para reflexão.
Abraços,
OI meu querido! Como sempre me surpreendo com tanto talento quando venho aqui. Parabéns.
Realmente o tempo tem me faltado...o trabalho e a faculdade tem me tomado o tempo para escrever.
Falando do texto, realmente não são apenas os abusos que tem usurpado a infância de milhares de crianças. A mídia e a própria sociedade são um dos piores causadores.
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