Bato palmas... ela demora. De repente, com passos lentos e
curtos, aparece. A aparência franzina esconde a alma de uma guerreira de 71
anos.
Com muitas olheiras, ela me olha. Fico sem reação e pergunto:
- Você é a fulana de tal?
- Sim, sou eu! Quem é você?
- Eu sou o repórter que veio falar contigo.
- Ah... tá... Entre... (a voz já mostra sinais de fraqueza).
Sento no sofá, observo a sala, a casa. Um lugar simples, mas
limpo.
- Não repare na bagunça – Ela diz.
Uma criança de dois anos, loira, olhos azuis entra na sala.
Sorri e fala “mamá”.
- Não repare, ela é minha ‘netinha’, filha da irmã de Bruna.
Me chama de mamãe, porque eu cuido dela desde o nascimento.
Bruna (nome fictício) é o motivo para eu estar ali, e
conhecer uma das melhores histórias da minha vida como jornalista.
- Eu não gosto de falar sobre esse assunto. Fico sem
palavras. (Nos olhamos por alguns segundos, e o silêncio tomou conta de duas
pessoas). Eu esperei o seu momento...
Ela respira, os olhos enchem de lágrimas. Respira novamente,
novamente... A voz fraca, mas lúcida começa:
- Bruna mora comigo desde a morte do seu pai, meu sobrinho.
Fiz uma promessa para ele e desde então nunca deixei de cumpri-la. No entanto, as frases que eu mais escutava na
minha vida foram: “Vou te matar, velha louca, vou acabar com você. Vou te matar
quando estiver dormindo.” (para e respira de novo. Dos olhos, nenhuma lágrima
cai, talvez seja porque já caíram demais).
E a história continua aqui...
Depois que ler o texto, volte para cá...
Antes de eu entrar no carro da reportagem ela diz:
- Eu te contei tudo, porque você me pareceu confiante e uma
boa pessoa.
(O meu peito doeu) E a resposta veio logo. Obrigado pela
história, obrigado por me dar um exemplo de vida, dona Emília. Que Deus
continue te abençoando!
Fim...
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