Quase o tempo todo, estamos tentando chegar a algum lugar, modificar algo em nós mesmos ou deixar de fazer algo. Parece somos programados para agir como aquelas pessoas que foram tomadas por aquela vontade insaciável de descobrir o que existe atrás da próxima montanha. Assim que chegam lá, logo avistam outra nova montanha, a curiosidade se renova e o processo se repete infindavelmente.
Algumas pessoas são mais bem sucedidas que outras para alcançar seus próprios objetivos: parece que elas sempre conseguem o que querem, têm mais autocontrole e são mais realizadas. Outras pessoas estão sempre frustradas: travam batalhas perdidas contra o peso, contra o habito de fumar, sempre iniciam e desistem dos cursos de língua e nunca dão certo na área amorosa.
Neste artigo vamos examinar alguns mecanismos que ajudam a entender porque algumas pessoas são mais eficientes que outras para perseguirem e alcançarem os seus objetivos. Vamos examinar também alguns recursos que podem ser usados para aumentar as chances de sucesso desse tipo de empreendimento.
Fogo no traseiro e cenoura na frente
Muita gente passa a vida fugindo de coisas desagradáveis e buscando recompensas que estão lá na frente. Essas pessoas agem pouquíssimas vezes motivadas apenas pela satisfação que está no presente ou pelo prazer intrínseco da ação. Geralmente são pessoas cheias de conflitos, desvitalizadas ou torturadas e chatas. Em certas circunstâncias, todos agimos assim. O problema é quando isso se torna um hábito, que persiste por muito tempo, e esvazia o presente de todo o prazer.
Geralmente essas pessoas que aproveitam pouco as satisfações do presente alimentam a fantasia de que quando atingirem determinadas metas tudo vai mudar e, então, começarão a viver uma vida que valha a pena. Essas metas, assim que são atingidas, logo são substituídas por outras. Isso funciona como aquela anedota sobre o burro que só caminha quando o seu dono acende uma fogueira atrás do seu traseiro e coloca uma cenoura dependurada em uma vara que tem a outra extremidade amarrada na sua cela.
Pior ainda, quando essas pessoas cujas motivações têm origem no passado ou no futuro são ineficientes para alcançar as suas metas e vivem sempre lutando contra outras “tentações” que vão encontrando pelo caminho.
Resistências para adotar medidas explícitas de autocontrole
Parece que algumas pessoas têm verdadeira ojeriza de ações artificiais, programadas ou que exijam esforço. Isso é verdadeiro principalmente na área social onde a espontaneidade é muito valorizada. Isso é compreensível. A simulação e a dissimulação na área social produzem uma espécie de despersonalização e alijamento da sensação de estar de fato engajado em um relacionamento. Além disso, trata-se de uma submissão ao outro e de uma auto anulação por parte de quem tem que simular ou dissimular a forma como agiria naturalmente para obter determinados efeitos sociais.
Essas pessoas que são alérgicas ao “artificial” se ressentem quando sugiro que vão ter que lançar mão de técnicas de autocontrole, pelo menos temporariamente, para conseguirem aquilo que querem.
Geralmente admiramos aquelas pessoas que possuem “força de vontade” e “autocontrole” e que, por isso, não precisam desses artifícios.
Agir por necessidade faz parte da vida
Somos preparados biológica, social e psicologicamente para adaptar a nossa forma de agir às circunstâncias: quando faz frio nos agasalhamos, não colocamos a mão no fogo, evitamos os fios elétricos, não atravessamos a rua quando carros estão passando em alta velocidade, não tentamos ir a nado até a Europa e não agimos com outras pessoas só da forma que queremos.
Portanto estamos preparados psicologicamente para agirmos de forma que não gostamos para obter melhores resultados no futuro. Por exemplo, quando professores e atores tímidos começam a lecionar e a representar, respectivamente, é uma tortura. Na hora da aula ou da representação não sentem nenhuma vontade de atuar e gostariam de estar em outro lugar. Muitos persistem porque assumiram tal compromisso e porque precisam ganhar a vida. Depois de um tempo, quando o medo diminui, ai fica claro se realmente gostam de lecionar.
Autocontrole
O autocontrole implica na emissão de comportamentos que têm como principal finalidade a alteração das probabilidades de ocorrências futuras de outras ações do próprio indivíduo que está se autocontrolando: assinar um contrato ou programar o despertador, por exemplo, aumentarão as chances de cumprir aquilo que foi contratado ou de acordar na hora na hora desejada, respetivamente. Muitas vezes essa ação autocontroladora só acontece em nossos pensamentos: decidimos silenciosamente colocar a correspondência em dia.
Sistema contratual
Uma das formas de autocontrole que foi criada pelos psicólogos para ajudar aquelas pessoas que não possuem motivação para agir de forma a alcançar suas metas é o "sistema contratual": é assinado um contrato onde o assinante se compromete a agir (ou deixar de agir) de uma determinada forma até uma determinada data. Este sistema tem sido usado com sucesso por pessoas que querem perder peso, parar de fumar, cumprir tarefas dentro do prazo, etc.
Esse tipo de contrato deve ser apresentado por escrito. O seu descumprimento implica em uma consequência especificada no contrato e deve ser implacavelmente atribuída pelo executor do contrato. Geralmente esse contrato deve ter um objetivo modesto, facilmente executável em pouco tempo, como perder meio quilo em uma semana. O descumprimento da meta implica no pagamento de R$50,00, previamente adiantado através de um cheque depositado com o executor. O cumprimento da meta implica na devolução do cheque. Em seguida, o contrato pode ser renovado por mais uma semana. Quando a meta final vai sendo alcançada, as consequências naturais vão motivando cada vez mais o contratante: ele constata que está ficando mais magro, começa a receber elogios e a melhorar sua autoestima. Tudo isso aumenta a sua motivação e o contrato pode se tornar cada vez mais dispensável.
Outros tipos de autocontrole
Muitas técnicas de autocontrole foram desenvolvidas por psicólogos. Algumas delas são as seguintes:
Reforçamento encoberto: imaginar o mais realisticamente possível as boas consequências que esta obtendo por ter se portado da forma pretendida.
Aumentar a visibilidade das consequências futuras: por exemplo, visualizar repetidamente fotos que mostram tipos de câncer que pode ser causados pelo fumo. Colocar fotos na porta da geladeira da época que estava magro.
Comprometer-se publicamente com as modificações pretendidas: isso ajuda a controlar-se para não produzir constrangimentos.
Caso você não esteja conseguindo autocontrolar-se para alcançar os seus objetivos, procure a ajuda de um psicólogo.
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