terça-feira, 1 de julho de 2014

A minha camisa da Seleção



DE CAIO MACIEL*

Ganhei uma camisa da seleção brasileira de aniversário. Ganhei da minha namorada. Uniforme número dois, azul. Sem nome, sem número. Ela não sabia qual jogador eu queria estampado nas costas ou se preferia o meu próprio nome. Fez bem.

Perguntou, então: “Neymar ,10, certo?” nada disso. Admiro o futebol do nosso craque. A camisa dez do nosso rei está muito bem com nosso menino. Que poderia ter como sobrenome a palavra “estrela”, de tanto que ela lhe persegue. O topo está próximo do garoto de cabelo metamorfósico, a um passo dos monstros do futebol mundial de hoje, Messi e Cristiano Ronaldo.

Escolhi o outro craque. O outro fora de série da nossa seleção. Aparece pouco e nem é tão badalado comercialmente quanto seu companheiro David Luiz, mesmo o cabeludo sendo inferior tecnicamente. Queria a camisa 3 de Thiago Silva. Além de capitão é um verdadeiro monstro na zaga, um líder técnico, diferenciado e quase imbatível. Nas peladas finjo ser ele: o homem que superou uma tuberculose, deu um nó na vida e dobrou a ciência pra se tornar o melhor zagueiro do mundo.

Mas os heróis são de barro e podem se desfazer. As lagrimas de Thiago Silva antes das cobranças de pênaltis contra o Chile fizeram toda a minha idolatria e admiração evaporarem assim. Me distanciei ainda mais do capitão quando vi ele longe do time. Uma bola lhe serviu de a poio e impediu que ficasse no chão derrotado. Companheiros de coletes, reservas mesmo, levavam palavras de calma a Thiago. Pareciam filhos acalmando o pai. Uma cena triste em sua essência. Toda a magia em torno do herói se foi de vez quando ele pediu pra ser o último a bater o penalti, atrás até do goleiro Júlio Cesar, quando lhe caberia muito bem a primeira cobrança. Como uma criança preferiu o escuro e solitário rosto enfiado na grama do que olhar seus companheiros baterem os pênaltis. Todos os cobradores mais novos do que ele.

Seria Thiago Silva o homem certo pra erguer a taça de um hexa campeonato em pleno país do futebol?
Mas ai vem a razão e a pergunta muda. Porque deixar de confiar em quem mostrou sentimentos tão humanos? Medo, choro, falta de confiança. Afinal, o destino lhe escolheu entre bilhões pra ser o capitão da maior seleção do mundo na copa no Brasil. Não é pouco. E assim o ídolo toma forma de novo. Mais forte ainda. Mostrou um lado frágil e o superou.

Até porque qualquer herói perde uma grande batalha antes de vencer a guerra. Batman tem a costela quebrada por Bane antes de derrota-lo. O Homem de Ferro perde tudo antes de vencer Aldrich Killian. Se eles que são super heróis dos quadrinhos e cinema podem fraquejar, porque não Thiago Silva? Melhor agora nas oitavas do que na final.

Minha camisa da seleção é de numero três com orgulho e eu não a trocaria por nenhuma outra. Percebo que o destino reservou ao homem certo a braçadeira. Você tem a minha confiança, capitão.
*Caio Maciel é jornalista e trabalha na EPTV Campinas como repórter de esporte.

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